Principais métodos e técnicas

 

 

Para realizar um estudo elaborado sobre algo é necessário utilizar métodos de trabalho pré-definidos.

Os métodos de trabalho utilizados nos diversos ramos da Psicologia, diferem consoante o comportamento humano e os factos presentes para a análise.

 

Método Introspectivo

O método introspectivo foi o primeiro método usado em psicologia científica. A introspecção analítica ou introspecção controlada foi usada pelos estruturalistas (Wundt). Os indivíduos eram submetidos a estímulos numa situação padronizada; auto-observando-se descreviam a observadores treinados o que sentiam e assim permitiam a análise dos processos mentais conscientes. Este método não vingou, dada a impossibilidade de resultados estáveis e válidos. No entanto, a introspecção continua a ser largamente usada, como método auxiliar, na investigação dos nossos dias.

 

Críticas e limitações da aplicação do método introspectivo:

  • Só se observa um fenómeno psíquico depois de ele ter acontecido. A introspecção é, no fundo, uma retrospecção;
  • Os dados da introspecção só podem ser comunicados através da linguagem. Muitas vezes, o sujeito tem dificuldade em exprimir o que sente por palavras; diferentes pessoas descrevem de forma diferente o mesmo fenómeno psicológico;
  • Os fenómenos psicológicos não são compatíveis com a introspecção, pois se se está muito emocionado, não se consegue analisar a emoção; e existe dificuldade em analisar fenómenos psicológicos que se sucedem rapidamente;
  • O indivíduo que pratica a introspecção é o único que observa a sua experiência interna. A sua observação não pode ser controlada por outro observador;
  • O método introspectivo não se pode aplicar aos domínios da psicologia infantil, da psicopatologia ou psicologia animal;
  • A tomada de consciência de um determinado fenómeno, implica a sua alteração.

 

 

Método experimental

- A adopção do método experimental correspondeu a uma necessidade de assegurar à Psicologia o carácter de ciência objectiva e rigorosa, seguindo o modelo das ciências da natureza.

- Procura compreender os factos que estuda através da identificação das suas causas. A relação causa efeito é enunciada na hipótese e testada na experimentação. Além disso, os resultados verificados na amostra significativa são generalizados à população estudada.

Etapas do método Experimental

1) Formulação de hipóteses: a hipótese prévia corresponde à suposição de relações entre diversos factos.

2) Experimentação:

Manipulação e controlo das variáveis – o investigador faz variar um determinado factor (variável independente) e verifica as alterações dessa variável no comportamento que está a estudar – variável dependente.

Variável independente – Factor manipulado pelo experimentador e que pode ocasionar modificações na variável dependente. É manipulada pelo investigador e é o que se supõe ser a causa do comportamento que se pretende estudar.

Variável dependente – aspecto do conhecimento que o investigador pretende conhecer. A sua variação dependerá da variável independente.

Variável parasita ou externa – aspectos que o investigador não considerou na hipótese e que podem influenciar os resultados. As variáveis parasitas devem ser identificadas para se controlar o seu efeito.

Para poder controlar o efeito da variável independente na variável dependente o investigador vai formar dois grupos:

Grupo experimental – conjunto de indivíduos submetidos à experiência, isto é, que sofrem os efeitos da manipulação da variável independente; serve para verificar o efeito que a variável independente produz na variável dependente.

Grupo de controlo (ou grupo testemunha) – conjunto de indivíduos que não sofrem os efeitos da manipulação da variável independente, servindo se termo de comparação com o grupo experimental; serve para verificar se as alterações da variável dependente se devem ou não à variável independente

Podemos distinguir dois tipos específicos de experimentação:

Experimentação provocada – o investigador manipula a variável independente para analisar os seus efeitos na variável dependente.

Experimentação invocada – o investigador observa situações que acontecem na vida corrente procurando estabelecer uma relação entre variáveis. Não há manipulação da variável independente.

A Psicologia recorre a dois tipos de experiências: experiência laboratorial (ao decorrer num ambiente artificial, o comportamento das pessoas pode sofrer distorções; no laboratório, estão ausentes variáveis que existem no meio natural e que influenciam o comportamento) e experiência de campo ou em contexto ecológico (estas experiências não permitem controlar todas as variáveis nem separar os diferentes factores).

 

3) Registo de Observações – implica as medições das variáveis dependentes.

 

4) Generalização dos resultados - É o processo de estender, para o universo, as conclusões obtidas através do estudo da amostra e criar uma lei científica.

População – grupo de indivíduos sobre os quais se pretende desenvolver um estudo.

Amostra significativa – é uma parte seleccionada da população a estudar, do universo que se pretende estudar e que reflecte as características dessa população permitindo a generalização.

 

Limitações do método experimental:

Há dificuldade em controlar variáveis que afectam o que se está a investigar (variáveis externas ou parasitas);

Há situações que, por razões de ordem ética, impedem o recurso à experimentação: não se podem provocar danos físicos ou psicológicos para se testar uma hipótese;

Não são tidas em conta as características particulares de um sujeito;

A complexidade do comportamento humano dificulta o isolamento das variáveis independentes;

Há dificuldade em se controlar as expectativas dos participantes.

 

 

Observação

 A observação pode ser considerada um método, um instrumento ou uma etapa de outros métodos; por isso, o observador tem tarefas idênticas às do experimentador – formular hipóteses, prévias controlar e generalizar resultados.

A observação pode ocorrer em laboratório (observação laboratorial) ou em contexto ecológico (observação naturalista). Nestes dois tipos de observação, o observador não participa na experiência (observação não-participante).

A observação laboratorial permite controlar melhor as variáveis, mas o ambiente é artificial, afectando por isso o comportamento dos sujeitos. Há comportamentos que não podem ser observados em laboratório – o observado tende a comportar-se de acordo com o que julga ser a expectativa do observador.

A observação naturalista valoriza a relação dos indivíduos com o meio em que estão inseridos, considerando que descolá-los desse meio equivale a uma perda de informação e uma distorção da mesma. Há dificuldade no controlo das variáveis.

Existe um outro tipo de observação em que o observador se integra na unidade social que vai estudar para recolher dados – observação participante. Valoriza a apreensão qualitativa do comportamento nos contextos sociais.

Existem diversas técnicas de registo sistemático dos dados da observação, tais como testes (situação de avaliação escrita, oral ou de realização de actividades), inquéritos (conjuntos de questões escritas), entrevistas, grelhas de observação (listagem de um conjunto de comportamentos a observar, que os sujeitos podem ou não emitir) e aparelhos de registo electrobiológico (electroencefalógrafo, cronoscópio electrónico, etc.).

 

 

Método Clínico
 

·         O método clínico aplica-se no estudo aprofundado de um indivíduo, situação ou problema. A pessoa é encarada como ser global e único.

·         Visa uma compreensão global e profunda dos processos que estão subjacentes aos comportamentos manifestados.

·         Implica uma atitude de compreensão e de procura de significações por parte do psicólogo;

·         Implica a intuição do psicólogo na sua relação com o sujeito – a relação que se procura estabelecer é de empatia (intersubjectividade), pois existem aspectos que escapam ao conhecimento racional e que são mais intuitivos.

·         Não isola variáveis como o método experimental: tem em conta todas as variáveis envolvidas.

·         Recorre a um conjunto específico de técnicas como a observação clínica, entrevista clínica, anamnese e testes.

 

Técnicas de observação clínica

Entrevista clínica – interacção verbal conduzida pelo psicólogo e que serve como meio de diagnóstico e psicoterapia. Através da entrevista, a pessoa pode entender melhor o que a preocupa, compreender-se a si própria e buscar estratégias para a resolução do seu problema.

Anamnese – conjunto estruturado de informações significativas passadas e presentes relativas a uma pessoa. Permite a compreensão aprofundada da história de um indivíduo.

Observação clínica – observação directa dos comportamentos e atitudes do indivíduo com o objectivo de compreender os seus problemas.

Técnicas psicométricas (testes) – constituem conjunto de respostas a questões e/ou actividades previamente definidas, para compreender determinado(s) aspecto(s) do individuo, tais como inteligência, personalidade e os aspectos instrumentais (agilidade motora, fluência verbal, etc.)

– são fundamentalmente usados para estudar fenómenos que não podem ser estudados directamente;

- testes projectivos – visam revelar aspectos mais profundos da personalidade que se projectam nas situações em que o sujeito é colocado. O material que constitui este tipo de teste deve permitir uma exploração livre e projectiva por parte do sujeito. (exs.: Testes de Rorschach, Teste de Apercepção Temática, Teste de Frustração, etc.)

 

Testes devem ter algumas qualidades metrológicas:

- Padronização – mesmas condições de aplicação, cotação e avaliação;

- Fidelidade – os resultados dos testes devem ser estáveis para permitirem previsões/conclusões;

- Validade – é importante definir claramente o que um teste mede realmente para permitir que se tirem conclusões;

- Sensibilidade – um teste é tanto mais sensível quanto melhor diferenciar os sujeitos.

 

 

Método Psicanalítico

O método psicanalítico tenta interpretar e tornar conscientes as informações que residem no imenso e profundo/submerso mundo do nosso inconsciente, de forma a compreender e evitar os comportamentos considerados desviantes, e, por isso, perturbadores da vida dos indivíduos.

Tem uma aplicação terapêutica em várias doenças do foro psíquico, tais como depressões, neuroses, fobias, etc.

Associações livres – o paciente diz o que lhe vem à mente e expressa os afectos e emoções sentidos, sem se preocupar com o sentido das suas afirmações. O objectivo é recordar os acontecimentos traumáticos recalcados, interpretá-los e compreendê-los.

Interpretação de sonhos – considerada por Freud o meio de atingir o inconsciente do paciente. O material recalcado liberta-se, ainda que de uma forma distorcida, no sonho. O analista vai, assim, procurar o sentido oculto do sonho, ou seja, o significado profundo do sonho, incompreensível para o sonhador.

Análises dos actos falhados – os actos falhados resultam da interferência de intenções diferentes que entram em conflito. São os desejos recalcados que dão origem aos actos falhados.

Processo de transferência – a transferência é um processo em que o analisando transfere para o psicanalista os sentimentos de amor/ódio vividos na infância sobretudo relativamente aos pais. O psicanalista interpreta os dados do processo de transferência.